sábado, 10 de janeiro de 2015

Crónica: do naufrágio do navio Dilza após incêndio a bordo á um cenário de tragédia com Vicente

O Radar News Online faz uma retrospectiva a cerca de navios de passageiros, bem como de cargas que sofreram acidentes nos mares de Cabo Verde. O sector dos transportes marítimos tem registados casos que causam caos, isto é, a insuficiência de navios nas rotas fazem os cabo-verdianos bradar ao céu. Mas, há histórias envolvendo barcos de bandeira nacional que causam sofrimento e angústia, fazem as pessoas derramarem lágrimas pela perda de familiares e amigos. A viagem no tempo começa em 2006 com o incêndio a bordo, seguido de afundamento do navio de carga, Dilza e culmina numa tragédia que envolve o navio Vicente, com registo de três mortes e 12 desaparecidos, e 11 pessoas encontradas com vida.

Navio Vicente, da Companhia Tuninha
Este online embarca numa viagem onde várias pessoas até o dia de hoje guardam recordações, que com o passar do tempo não saem da memória. Há outros que trazem marcas no corpo e coração por causa de um dia onde passarem por situações que não desejariam a ninguém que estivesse em alto-mar. Sabe-se que para o público ficaram perguntas por responder: como ocorreu os naufrágios ou encalhes, quem são os culpados e as medidas que deveriam ser tomadas para garantir a certificação e viagens em segurança.

Mas, é sabido que em Cabo Verde, em muitos casos, a culpa morre solteira, e no sector dos transportes marítimos essa situação não foge a regra, independentemente de casos onde se provou serem acidentes sem negligência humana. É, que quem averigua nunca vem a público apresentar os relatórios finais das investigações e dissipar todas as dúvidas.

Historial

Porém, deixemos de lado aquilo que se sabe que vai continuar a ser uma realidade em Cabo Verde e avancemos para o primeiro caso. O navio "Dilza", que transportava combustíveis inter-ilhas, ao serviço da Enacol se incendiou no dia 17 Janeiro 2006, e depois de estar em chamas afundou-se nas proximidades do ilhéu Raso, ilha de Santa Luzia. Na altura dos factos, o capitão dos Portos de Barlavento, Manuel Monteiro, que se deslocou ao local para "avaliar a situação", afirmou não existirem grandes riscos para o meio ambiente, uma vez que o combustível foi, na sua maior parte, consumido no incêndio. A tripulação do navio, constituída por 10 pessoas, foi socorrida por um barco de pesca que se encontrava nas imediações do local do sinistro, tendo sido transportada para a ilha de São Vicente. 

Dilza, pertencia a Cia Crivinave

Companhia Polaris perde dois navios

A saga de desastres com navios em Cabo Verde prosseguiu em 2008, a Companhia de transportes marítimos, Polaris perdeu dois navios de passageiros e cargas, no espaço de um mês. Estes dois casos até hoje são relembrados por tripulantes dessa empresa que viveram os dois naufrágios. 

Navio Barlavento da Cia Polar

A primeira foi a emblemática embarcação, Barlavento construída junto com o Sotavento em estaleiros navais na Alemanha. Na noite 2 Abril 2008, por volta das 23h15, a sul a sul da ilha do Fogo, na Baixa de Pescadeira, o navio Barlavento encalhou com 11 passageiros e 15 tripulantes a bordo, que foram evacuados algumas horas depois. As autoridades marítimas estavam a tentar rebocar o navio de volta para a capital, cidade da Praia, mas as operações acabaram por não ter sucesso, uma vez que a embarcação acabou por afundar.

A frota da empresa Polaris ficou reduzida com a perda deste navio. Mas, não antevia que o azar iria continuar a bater-lhe as porta. O N/M Musteru afundou-se na noite de 6 Maio, ao largo de Porto Mosquito, ilha de Santiago, enquanto ia de viagem para a ilha do Fogo. O navio afundou-se depois da carga que transportava ter tombado para um dos lados devido à forte ventania que se fazia sentir. A água começou a entrar no Musteru e a tripulação não teve outra alternativa senão abandonar o barco e salvar as 109 pessoas que seguiam para o Fogo. Ninguém ficou ferido durante o acidente nem durante a operação de salvamento.

Musteru a afundar-se ao largo de porto Mosquito

Encalhes

O navio "Terry Tres" encalhou no dia 9 de Setembro 2012, ao largo da praia de Francisca, na ilha de Santa Luzia, Cabo Verde. Vinha da ilha de Boa Vista e tinha como destino a ilha de Santo Antão para embarque de máquinas e contentores. O seu encalhe nessa zona em Santa Luzia continua a ser um mistério por descobrir, nas medidas que as autoridades marítimas revelaram que o navio poderia ter zarpado por uma zona sem perigo. Por ora, a embarcação que foi dado com perdido a favor do Estado de Cabo Verde está a ser desmantelado por uma empresa estrangeira. 

Terry Tres na praia Francisca, Santa Luzia

Mistério

No domingo, 8 Setembro 2013, o navio Rotterdam, concebido inicialmente para a pesca e que sofreu modificações com vista à sua transformação numa embarcação para o transporte de cargas, deixou o porto da cidade da Praia rumo à ilha da Boa Vista onde deveria atracar no porto de Sal-Rei na segunda-feira, 9 Setembro. As autoridades marítimas, bem como os familiares, perderam o contacto com a tripulação que trabalha na embarcação. As autoridades marítimas deram o alerta a todos os barcos que estavam nas nossas águas no sentido de ajudarem a localizar a embarcação, mas o certo é que o caso do desaparecimento do Rotterdam continua a ser um mistério por esclarecer.

Rotterdam

Choque

Um novo encalhe veio a acontecer desta feita após o choque entre dois navios, a entrada do cais da Praia durante o exercício de manobras. O acidente entre o Sal rei e o navio-tanque Cipreia, da empresa Vivo Energy que faz o transporte de combustível inter-ilhas aconteceu no dia 31 Outubro 2013. A colisão aconteceu no canal de acesso ao porto da Praia quando o navio-tanque Cipreia saía do porto em direcção à ilha do Fogo e o Sal Rei vinha a entrar.

Sal Rei encalhado na baía do Porto da Praia, Santiago

Os tripulantes e passageiros do navio Sal Rei foram resgatados por um outro navio que estava no Porto, o Djon Dade, sem nenhum ferimento. A colisão provocou o desequilíbrio do Sal Rei, que entrava no porto, o que fez encalhar o navio perto do ilhéu de Santa Maria, mas depois de várias operações viria a ser resgatado e por ora se encontra atracado no cais da CABNAVE na ilha de São Vicente.

Navio Cipreia após o embate com Sal Rei

Resgate

Em Maio 2014, no dia 31 ocorreu mais um encalhe que culminou no resgate dessa embarcação. O caso aconteceu na ilha de São Vicente e envolveu o navio Tarrafal que devido ao forte vento que se fazia na Ilha do Monte Cara foi arrastado do Porto Grande onde estava fundeado e só parou na zona da Galé. 

Tarrafal encalhado na zona da Galé, São Vicente

O navio que operou regularmente em Cabo Verde durante quase uma década, sob a chancela da companhia STM, há muito que constitui um perigo a navegação na Baía do Porto Grande porque se encontrava fundeado e totalmente às escuras. Da tripulação, antes constituída por 25 pessoas, a empresa manteve a bordo apenas um guarda. E, ao que tudo indica, em condições precárias porque ficou sem combustível e alimentação. Com a acção do vento foi parar a Galé, onde acabou por ser retirado por um rebocador das Canárias, e agora está atracado no Porto Grande, por questões de segurança.

Averiguações

O navio Pentalina-B encalhou na praia de Moia Moia, região do Concelho de São Domingos, por volta das 2 horas da madrugada na quinta-feira, 5 Junho 2014. Todos os passageiros que estavam a bordo, 69 adultos e 16 crianças foram retirados do navio com ajuda de um rebocador. Dias depois foi feito uma rampa de acesso a terra que permitiu a retirada de carros e cargas. O Pentalina-B operava em Cabo Verde desde 2009 e acabou por encalhar junto a um rife, e o caso pelas averiguações realizadas pelas autoridades apontou que se deveu a negligência humana que o levou a ficar próxima de terra até esta data.

Pentalina B encalhado na zona de Moia-moia

Volvidos dois meses, no dia 3 Agosto, o navio John Miller, propriedade da empresa de combustível Enacol, afundou-se no Porto da Boavista quando se preparava para fazer uma descarga de combustível e gás na ilha. Durante diligências foram recuperadas várias mercadorias que estavam a bordo da embarcação, bem como equipamentos que continham combustível e gás. Já o "John Miller" não foi resgatado e ainda continua nas profundezas da baía do Sal Rei.

Navio John Miller afundando na baía de Sal Rei, Boa Vista

Tragédia

E, para fechar esta retrospectiva, um caso que tirou o sono a muitos cabo-verdianos: o afundamento do navio Vicente, da Companhia Tuninha, na noite do dia 8 Janeiro 2015, nas imediações do Porto de Vale dos Cavaleiros, na ilha do Fogo. A sobrecarga do navio, aliada as condições do mar e do tempo, indicada por manobras perigosas por determinação do Comando do Vicente podem ter ditado o desfecho do naufrágio mais trágico no últimos oito anos em Cabo Verde: Três mortes confirmadas, 12 desaparecidos e 11 pessoas encontradas com vida... As buscas prosseguem e há esperança de se encontrar sobreviventes ou corpos dos desaparecidos. 

























1 comentários:

  1. Essas perdas são lamentáveis! Porém, o que mais dói é o desaparecimento físico dos nossos amigos e familiares!
    De um ponte de vista geral, no meio de tudo isso há gato. Por ser, cabo Verde, um Arquipélago insular, desde sempre houvera necessidade de recorrer aos navios para transporte de passageiros e de mercadorias entre as ilhas e passando pela as encostas perigosas, com recifes e ilhéus submersos, sempre na tranquilidade e sem risco. O estranho, começou a dar a cara em 2006 com o incêndio e seguida de afundamento do navio Dilza. O que é estranho, é que, desde então, há uma onda que engole navios constantemente. É simplesmente sinistro!
    Ocaso mais bizarro que temos, envolve o navio "Rotterdam", que saiu do caís, fez a curva e desde então o desaparecimento dele é uma incógnita, sem esquecer também do N/Vicente que afundou-se em pouquíssimos minutos deixando 11 pessoas desaparecidas e familiares sem saberem o que fazer!!!

    Não quer dizer que a negligencia está a bordo do navio, não, nada disso. A negligência tem mão assassinas, as autoridades precisas de ver isso de forma pormenorizada! Se parar-mos para ver, outrora hávia sempre uma forma de recordar de navios encalhados, porque ficava até deteriorarem pela corrosão, mas agora isso já não é possível porque, mal se encalhem, já há quem os quer desmantelar, parece que o plano de desmantelamento se encontrava pronto ante do tal acontecer. Simplesmente macabro!!!

    Também, não podemos esquecer dos navios que afundem mesmo acostado ao cais, que é o caso de mar no e outro que se encontravam na mesma zona

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